Arquivo para fevereiro \15\-02:00 2009

Gemini

Avenida Paulista tem a maior variedade de eventos da cidade de São Paulo… Talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas se não é  o lugar que tem mais opções para uma tarde/noite agradável, com certeza é um dos mais. Tem de tudo um pouco. Você pode estar no cursinho, as 5 da manhã, e cabular aula em algum café agrádavel na região, pode estar com a tarde livre e querer ver alguma exposição de arte, por ventura acontecendo por lá, ou assistir um filme em algum cinema. E, em último caso, você pode querer passar a noite em algum bar com os amigos, ou levar a namorada para jantar em um restaurante bonitinho. Tem tudo ali.

No meu caso eu escolhi a “tarde agradável no cinema” pra ir com a namorada. Já havíamos decidido o filme, mas por salas de cinema não tínhamos muitas opções. O único cinema que ainda passava o cartaz que procurávamos era o Gemini, na citada avenida. Sempre passava na frente desse cinema, dentro de uma galeria bem discreta, próximo ao prédio da Gazeta. Havia um cafézinho bem agradável e uma das melhores lojas de CDs que conheço, sem contar um restaurante humilde e muito bom que já me salvou o almoço boas vezes.

Não via esse cinema com olhos de quem vê um cinema comum. Sempre me passou pela cabeça uma imagem muito errada, preconceituosa e equivocada: um cinema caindo aos pedaços, ruim e barato por todos os motivos citados. A namorada ocultou as opiniões até o último momento. Compramos o ingresso e ainda faltavam 40 minutos para o começo da sessão, demos uma volta antes de entrarmos na sala. Um grande saguão, vazio, com posteres nas paredes me deram boas vindas, e me puxava para as escadas na extremidade, onde se encontram as salas. Evitei pensamentos até olhar o conjunto da obra e poder ter uma opinião melhor.

Subimos a escada enquanto ela comentava: “Esse é meu cinema preferido. Você já vai entender…”. As escadas e todo o andar superior eram forrados por um carpete no estilo anos 80: um padrão de cores hipnotizantes em formatos hipnotizantes. O tamanho, inicialmente, me espantou. Não imaginava que o cinema que eu tinha uma imagem poderia me impressionar como me impressionou logo de cara. Era grande e vazio, com um saguão qual direcionava o espectador à sala desejada programada para seu filme. Como a opção não é vasta, à direita fica a sala 1, e a sala 2 logo a frente. Todas as paredes muito bem estampadas com posteres, fui até uma área antes da porta da sala um, com poltronas, lixos, o balcão para os doces e os banheiros, e fiquei ali esperando a dama que tinha ido ao toalete.

De algum jeito aquele lugar me dava medo. Pelo seu estilo antigo, por ser vazio do jeito que é, as luzes baixas, a doceria toda apagada… ISSO! Essa doceria apagada, sem muitos doces, nem pipoca pronta… Acho que foi a cereja no topo do bolo para eu esperar que alguma coisa bizarra acontecesse. Um monstro sairia debaixo da poltrona onde estava sentado, algum tiroteio começaria sem mais nem menos, ou alguma armadilha no melhor estilo Jogos Mortais ESTAVA LÁ PRA ME MATAR. Certeza! E um outro espectador na melhor pinta “psicopata” ficava andando de um lado pro outro, me olhando, até afinal desaparecer… Eu não poderia esperar coisa melhor.

Ela estava demorando muito no banheiro, então me arrisquei a ir até a espera da sala 2, vermelha, para ver o que me esperava por lá, também. A doceria se localiza no meio das paredes, dando balcão tanto ao saguão da sala 1 quanto ao da sala 2. As luzes apagadas dela ainda me davam medo, o resto de pipoca velha na estufa e as máquinas de refrigerante pingando ainda me lembravam algo como Silent Hill. A sala 2 não estava exibindo nenhum filme aquele horário, talvez isso que estivesse completando aquele vazio. Voltei para buscar a namorada que saia do banheiro.

A dita cuja me fala da aparência bizarra dos banheiros. Só me restava ir checar por mim mesmo, com minha câmera em uma mão, e meu rabo na outra. Aquela porta branca não engana ninguém… Entrei. Me deparo com as duas pias, um grande espelho e as únicas duas lâmpadas que iluminam o toalete paralelas e verticais à borda do espelho acima das pias. Recoberto de azulejos VERMELHOS SANGUE, à esquerda, em cima dos azulejos, ficam 4 mictórios brancos-envelhecidos. À direita têm três cabines com privadas, e numa extremidade, ao lado de uma das cabines, outro gigante espelho. E o fato mais macabro: a cabine central estava trancada. Não satisfeita em estar trancada sem ninguém utilizando-a, ela emitia sons estranhos. E ainda não satisfeita, ao passar o limite de sua porta, o azulejo vermelho ESCURECIA A MEDIDA QUE SE DISTANCIAVA DA PORTA. Era um buraco negro, ou um Emergency Hole. Só pode.

O tempo de sobra nos forçou a sair de lá por uns momentos. Na volta, nem parecia o mesmo. Ainda que não estivesse lotado, algumas pessoas já esperavam a mesma sessão que nós ao lado de fora. A doceria já estava acesa e a pipoca estava sendo preparada. A sessão anterior esvaziava ao mesmo tempo que uma funcionária anunciara a abertura para a nova/nossa sessão. Já me preparava ao ouvir “Olha o tamanho dessa sala” que minha companhante.

Entro, sigo para a esquerda, e vejo o colossal tamanho da sala. Infinitas fileiras, a sala de projeção bem exposta no topo das poltronas… Eu subestimei até que demais esse cinema. O tamanho da tela não fica a dever em nada para as ditas “grandes redes”. Escolhemos nossos lugares e, antes que começasse o filme, já animado e sem medo, fui até a doceria comprar pipoca e uma Coca. Ganhei até uma Paçoquita grátis! Sensacional!

A projeção foi perfeita e o som acompanha a qualidade. Pouco mais de 10 pessoas estavam na mesma sessão, e isso parece ser uma constante de qualquer sessão do recinto. Em outras palavras: só tem vantagens. Mais uma? Filmes que saem de cartaz ficam lá por um tempinho a mais. Perdeu qualquer filme que queria assistir porque saiu de cartaz em TODOS os cinemas? Procure lá.

Um lugar bem subestimado, mas só até descobrirem o cinema que é [e que foi, pela história]. Avenida Paulista, 807. Ficadica.

Foto por mim.

Mão-dupla

O que você diria se visse alguém beirando um ataque de pânico em plena rua, a noite, ofegante, chorando? E porque as pessoas me olhariam desse jeito estranho que olham? Isso digo das poucas que cruzaram o caminho ao qual passei enquanto tentava me salvar de mim mesmo. Mas até onde me pergunto, não acho a resposta porque isso teria acontecido.

Quando as coisas parecem estar tudo bem, não é para supostamente FICAREM bem, por pelo menos tempo equivalente ao tanto que as coisas ruins ficaram? Isso parece bem óbvio. Não? E porque o passo além nos pensamentos só voltaram com as coisas ruins? E não consigo me beneficiar desse defeito tentando usar na criatividade?

Talvez eu realmente ache necessário aquela coisa de controle de raiva. Mas não seria mais controle, que o controle é a parte fácil, mas sim como me livrar das toneladas de raiva acumulada nos punhos. As costas são para os problemas. Faz mais sentido, não? Raiva nos punhos, pra socar… Não preciso explicar. O sentido na minha cabeça é único, repavimentar e construir estradas para pensamentos em mão-dupla da muito trabalho… Ou talvez seja isso que está faltando?

Qual é a das crises de identidade, também? Como eu posso ficar mal sem saber porque fico mal? Se está tudo bem?!… Essa é uma estrada de mão-dupla que eu gostaria de pegar dentro de mim mesmo pra chegar na raiz dessas questões, e não ficar pensando mais do que eu devia. Mais merda. Faz sentido, não?

…Doutor?

-Porque você não se responde?

Talvez prefira a superficialidade de ouvir os outros antes de argumentar com as minhas próprias opiniões. Fuck!

Foto do post por Maíra Erlich.